Eu me chamo Antonio

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Romantismo no Brasil

      Do surgimento de uma linguagem literária brasileira

O início da colonização do Brasil é marcado linguisticamente pelo predomínio do “tupi” misturado ao “português”, somente depois de 1750, Portugal baniu as línguas gerais e o seu uso foi criminalizado. Apesar disso, expressões indígenas e populares brasileiras, insistiam em permanecer nas falas dos cultos das novas “Academias Literárias Neoclássicas”. Assim, termos e expressões legitimamente brasileiros e consagrados através da língua falada, passaram a ser usados na literatura nacional, por isso, muitos estudiosos consideram as produções árcades brasileiras, precursoras do Romantismo no Brasil, pois seguindo essa tradição linguística, os primeiros poetas românticos brasileiros adotaram como desejo, a criação de uma nova literatura que expressasse a natureza e os costumes brasileiros. Se por um lado, a mudança da política linguística de Portugal colaborou para a unificação da língua portuguesa na colônia, por outro lado, serviu como estopim para o aparecimento e a formação de uma literatura genuinamente brasileira.

Imagem 1: Portugal sob a tutela do Marquês de Pombal baniu as línguas gerais no Brasil e criminalizou o uso.



           Do romantismo no Brasil

No começo do século XIX, na América latina, um cenário de guerra afligia especialmente as colônias espanholas. Mas, diferente desse contexto, o Brasil colonial aproximou seus laços com Portugal e essa paz contribuiu tanto na expressão da cultura ocidental como no florescimento do Romantismo no país. A chegada da família real portuguesa e sua corte em 1808 e a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro, proporcionou a criação da biblioteca nacional, a fundação de faculdades, a importação de livros, a instalação de tipografias e os primeiros jornais brasileiros e com a independência do Brasil em 1822, o sentimento de otimismo nacional, instaurado pelo fim dos laços coloniais que prendiam o Brasil a Portugal, abre portas para o Romantismo.  Os intelectuais vindos da tradição colonial eram padres e bacharéis, identificados com os interesses da Colônia e passivos diante das ações políticas governamentais, o que lhes garantia a permanência em cargos oficiais. Com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o intelectual brasileiro muda de perfil e passa a reivindicar o direito à crítica, adota a razão e o sentimento cívico, e é impelido a se engajar politicamente, participando diretamente na militância em rebeliões ou indiretamente, redigindo jornais com artigos de análise política. Didaticamente, associa-se o ano de 1836 com o nascimento da literatura brasileira e o surgimento do Romantismo no Brasil, com a publicação do romance “Suspiros Poéticos e Saudades” e a edição do primeiro número da revista “Niterói” em Paris, por Gonçalves de Magalhães.

Imagem 2: De Paris, Gonçalves de Magalhães lançou o Romantismo no Brasil.




       As três gerações de romancistas brasileiros

Na primeira geração da poesia brasileira representada pelos romancistas Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e José de Alencar, conhecida como “geração nacionalista ou indianista”, o espírito das rebeliões, o sonho da liberdade e os anseios pela independência, exaltaram a necessidade de uma identidade nacional que se traduziu na linguagem literária autóctone e na descrição do indígena como o “bom selvagem”, forte e bonito.

Imagem 3: Gonçalves Dias, romancista autor do famoso poema “Canção do  Exílio”.



Imagem 4: José de Alencar, retratou o indío, o regionalismo e a história valorizando a língua falada no Brasil. 



Já a segunda geração de romancistas brasileiros, chamada de “geração do mal do século” ou “geração ultra-romântica”, através da poesia de estudantes boêmios, inspirados especialmente no poeta britânico Lord Byron, ambicionava por liberdade e desejava formar a nobreza brasileira, mas marcada pela contradição, demonstrava desencanto e descrença com  a vida, buscando refúgio no passado, na obsessão pela morte, na solidão, nos sonhos e devaneios e numa  literatura obscena e irreverente tão presentes na obra de Álvares de Azevedo ou no lirismo ingênuo exibido nos versos de Casimiro de Abreu, entre outros mais.  

Imagem 5: Álvares de Azevedo escreveu poemas repletos de melancolia e desencanto com a vida.



A partir da segunda metade do século XIX, surgiu a terceira geração de romancistas brasileiros chamada de “geração condoreira”, termo inspirado no “condor”, uma alusão comparativa entre o vôo alto da ave, que voa além do topo das pitorescas montanhas andinas e os fastígios ideais dessa geração marcada pela crítica social e libertária e pelo aprofundamento do nacionalismo, atestados nos poemas de Castro Alves, o poeta abolicionista.

Imagem 6: Castro Aves com 18 anos, "poeta dos escravos" e talentoso poeta condoreiro.



Considerações finais

Durante o século XIX e início do século XX, muitos poetas romancistas brasileiros levavam uma vida boêmia e noturna, divertindo-se nas tavernas e entregando-se à bebida e ao fumo. Até 1929, não existiam antibióticos e a tuberculose ainda era uma doença incurável. Pelos seus estilos de vida desvairados, muitos poetas contraíram a tuberculose que se tornou conhecida como a “doença dos poetas”. Castro Alves morreu aos 24 anos e Álvares de Azevedo morreu com apenas 20 anos.
A ruptura da literatura brasileira com o purismo linguístico lusitano, que teve inicio com o Romantismo, alcançou grande visibilidade com o Modernismo e continua a inspirar os linguistas e poetas da literatura nacional. Em outro contexto, caberia uma melhor avaliação da forma e dos meios como acontece à apropriação das literaturas européias desde o Romantismo até hoje. Convencionou-se como o marco do fim do romantismo inglês a morte de Lord Byron em 1824; no entanto, doze anos depois, numa opinião crítica o título “Suspiros poéticos e saudades” levanta suspeitas e confusão, pois os “suspiros” de Gonçalves de Magalhães trazem logo à lembrança os “gemidos byronicos”. Mais semelhanças aparecem também na obra de outros românticos brasileiros, como as recorrentes epígrafes de Lord Byron nos poemas de Gonçalves Dias: “A Tarde” e “Sonhos”, reconhecendo Lord Byron como o “mal do século”. Entre os romancistas brasileiros que evocam a figura e a criação de Lord Byron, principalmente pela ambiguidade estilística, se destaca a obra de Álvares de Azevedo. Nem mesmo Castro Alves escapou ao “byronismo”, no seu livro “Espumas flutuantes”, além das traduções de poemas de Lord Byron, inclui alusões a fatos e personagens dos poemas de Lord Byron. Já foi reportado que os antigos críticos literários nacionais mostravam satisfação em apresentar denúncias sobre as influências e os plágios na literatura nacional; atitude típica da inclinação em fazer comparações entre escritores brasileiros e autores estrangeiros, para assim caracterizar e avaliar sua obra.  
Amante - Álvares de Azevedo
      Referências

CARVALHO, Brenda. Tuberculose, “a doença dos poetas”. Disponível em: < https://focagen.wordpress.com/2012/12/19/tuberculose-a-doenca-dos-poetas/>.  Acesso em: 20 mar. 2015.

CUNHA, Cilaine Alves. Visões do romantismo. Disponível em: < http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/visoes-do-romantismo-por-antonio-candido/>. Acesso em: 20 mar. 2015.

OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Byron e os românticos brasileiros. Rev. SCRIPTA. Belo Horizonte, v. 15, nº 29, p. 143 -159, 2º semestre, 2011.  Disponível em: <http://www.ead.ufpb.br/pluginfile.php/27917/mod_resource/content/1/Texto%2001%20-%20Byron%20e%20os%20rom%C3%A2nticos%20brasileiros.PDF>. Acesso em: 20 mar. 2015.

O ROMANTISMO no Brasil – a narração da nação. Disponível em: <http://www.ead.ufpb.br/pluginfile.php/27921/mod_resource/content/1/MATERIAL_2011.2/Texto_4.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2015.



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