Do
surgimento de uma linguagem literária brasileira
O
início da colonização do Brasil é marcado linguisticamente pelo predomínio do “tupi”
misturado ao “português”, somente depois de 1750, Portugal baniu as línguas
gerais e o seu uso foi criminalizado. Apesar disso, expressões indígenas e
populares brasileiras, insistiam em permanecer nas falas dos cultos das novas “Academias
Literárias Neoclássicas”. Assim, termos e expressões legitimamente brasileiros
e consagrados através da língua falada, passaram a ser usados na literatura nacional,
por isso, muitos estudiosos consideram as produções árcades brasileiras, precursoras
do Romantismo no Brasil, pois seguindo
essa tradição linguística, os primeiros poetas românticos brasileiros adotaram
como desejo, a criação de uma nova literatura que expressasse a natureza e os
costumes brasileiros. Se por um lado, a mudança da política linguística de
Portugal colaborou para a unificação da língua portuguesa na colônia, por outro
lado, serviu como estopim para o aparecimento e a formação de uma literatura
genuinamente brasileira.
Imagem 1:
Portugal sob a tutela do Marquês de
Pombal baniu as línguas gerais no Brasil e criminalizou o uso.
Do
romantismo no Brasil
No
começo do século XIX, na América latina, um cenário de guerra afligia especialmente
as colônias espanholas. Mas, diferente desse contexto, o Brasil colonial
aproximou seus laços com Portugal e essa paz contribuiu tanto na expressão da
cultura ocidental como no florescimento do Romantismo
no país. A chegada da família real portuguesa e sua corte em 1808 e a
transferência da sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro, proporcionou
a criação da biblioteca nacional, a fundação de faculdades, a importação de livros,
a instalação de tipografias e os primeiros jornais brasileiros e com a
independência do Brasil em 1822, o sentimento de otimismo nacional, instaurado pelo
fim dos laços coloniais que prendiam o Brasil a Portugal, abre portas para o Romantismo. Os intelectuais vindos da tradição colonial eram
padres e bacharéis, identificados com os interesses da Colônia e passivos diante
das ações políticas governamentais, o que lhes garantia a permanência em cargos
oficiais. Com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o intelectual
brasileiro muda de perfil e passa a reivindicar o direito à crítica, adota a
razão e o sentimento cívico, e é impelido a se engajar politicamente, participando
diretamente na militância em rebeliões ou indiretamente, redigindo jornais com
artigos de análise política. Didaticamente, associa-se o ano de 1836 com o
nascimento da literatura brasileira e o surgimento do Romantismo no Brasil, com a publicação do romance “Suspiros
Poéticos e Saudades” e a edição do primeiro número da revista “Niterói” em
Paris, por Gonçalves de Magalhães.
Imagem 2:
De Paris, Gonçalves de Magalhães lançou
o Romantismo no Brasil.
As
três gerações de romancistas brasileiros
Na
primeira geração da poesia brasileira representada pelos romancistas Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias
e José de Alencar, conhecida como “geração
nacionalista ou indianista”, o espírito das rebeliões, o sonho da liberdade e
os anseios pela independência, exaltaram a necessidade de uma identidade
nacional que se traduziu na linguagem literária autóctone e na descrição do
indígena como o “bom selvagem”,
forte e bonito.
Imagem
3: Gonçalves Dias, romancista autor
do famoso poema “Canção do Exílio”.
Imagem
4: José de Alencar, retratou
o indío, o regionalismo e a história valorizando a língua
falada no Brasil.
Disponível
em: < https://catracalivre.com.br/geral/livro/indicacao/livros-do-romancista-jose-de-alencar-disponivel-para-download/>.
Já a segunda geração de romancistas
brasileiros, chamada de “geração do mal do século” ou “geração ultra-romântica”,
através da poesia de estudantes boêmios, inspirados especialmente no poeta britânico
Lord Byron, ambicionava por
liberdade e desejava formar a nobreza brasileira, mas marcada pela contradição,
demonstrava desencanto e descrença com a
vida, buscando refúgio no passado, na obsessão pela morte, na solidão, nos
sonhos e devaneios e numa literatura
obscena e irreverente tão presentes na obra de Álvares de Azevedo ou no lirismo ingênuo exibido nos versos de Casimiro de Abreu, entre outros mais.
Imagem 5: Álvares de Azevedo escreveu
poemas repletos de melancolia e desencanto
com a vida.
Disponível
em: < http://soumaisenem.com.br/portugues/romantismo/o-romantismo-em-prosa-parte-3-alvares-de-azevedo>.
A
partir da segunda metade do século XIX, surgiu a terceira geração de
romancistas brasileiros chamada de “geração condoreira”, termo inspirado no
“condor”, uma alusão comparativa entre o vôo alto da ave, que voa além do topo
das pitorescas montanhas andinas e os fastígios ideais dessa geração marcada
pela crítica social e libertária e pelo aprofundamento do nacionalismo, atestados
nos poemas de Castro Alves, o poeta
abolicionista.
Imagem 6: Castro Aves
com 18 anos, "poeta dos
escravos" e talentoso poeta condoreiro.
Considerações finais
Durante o século XIX e início do
século XX, muitos poetas romancistas brasileiros levavam uma vida boêmia e
noturna, divertindo-se nas tavernas e entregando-se à bebida e ao fumo. Até
1929, não existiam antibióticos e a tuberculose ainda era uma doença incurável.
Pelos seus estilos de vida desvairados, muitos poetas contraíram a tuberculose que
se tornou conhecida como a “doença dos poetas”. Castro Alves morreu aos 24 anos e Álvares de Azevedo morreu com apenas 20 anos.
A ruptura da literatura brasileira com o
purismo linguístico lusitano, que teve inicio com o Romantismo, alcançou grande visibilidade com o Modernismo e continua a inspirar os linguistas e poetas da
literatura nacional. Em outro contexto, caberia uma melhor avaliação da forma e
dos meios como acontece à apropriação das literaturas européias desde o Romantismo até hoje. Convencionou-se
como o marco do fim do romantismo inglês a morte de Lord Byron em 1824; no
entanto, doze anos depois, numa opinião crítica o título “Suspiros poéticos e
saudades” levanta suspeitas e confusão, pois os “suspiros” de Gonçalves de Magalhães trazem logo à
lembrança os “gemidos byronicos”. Mais semelhanças aparecem também na obra de
outros românticos brasileiros, como as recorrentes epígrafes de Lord Byron nos poemas de Gonçalves Dias: “A Tarde” e “Sonhos”, reconhecendo
Lord Byron como o “mal do século”. Entre os romancistas brasileiros que
evocam a figura e a criação de Lord
Byron, principalmente pela ambiguidade estilística, se destaca a obra de Álvares de Azevedo. Nem mesmo Castro Alves escapou ao “byronismo”, no
seu livro “Espumas flutuantes”, além das traduções de poemas de Lord Byron, inclui alusões a fatos e
personagens dos poemas de Lord Byron.
Já foi reportado que os antigos críticos literários nacionais mostravam
satisfação em apresentar denúncias sobre as influências e os plágios na
literatura nacional; atitude típica da inclinação em fazer comparações entre escritores
brasileiros e autores estrangeiros, para assim caracterizar e avaliar sua obra.
Amante - Álvares de Azevedo
Referências
CARVALHO, Brenda. Tuberculose, “a doença dos poetas”. Disponível em: < https://focagen.wordpress.com/2012/12/19/tuberculose-a-doenca-dos-poetas/>.
Acesso em: 20 mar. 2015.
CUNHA, Cilaine Alves. Visões do romantismo. Disponível em:
< http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/visoes-do-romantismo-por-antonio-candido/>. Acesso em:
20 mar. 2015.
OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Byron e os românticos brasileiros. Rev.
SCRIPTA. Belo Horizonte, v. 15, nº 29, p. 143 -159, 2º semestre, 2011. Disponível em: <http://www.ead.ufpb.br/pluginfile.php/27917/mod_resource/content/1/Texto%2001%20-%20Byron%20e%20os%20rom%C3%A2nticos%20brasileiros.PDF>. Acesso em:
20 mar. 2015.
O ROMANTISMO no Brasil – a narração da
nação. Disponível em: <http://www.ead.ufpb.br/pluginfile.php/27921/mod_resource/content/1/MATERIAL_2011.2/Texto_4.pdf>. Acesso em:
20 mar. 2015.
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