Eu me chamo Antonio

quinta-feira, 30 de março de 2023

TCC de LIEGGE KARLA LEITE PESSOA (MInha irmã)




LINGUAGEM E SEXISMO


O texto é parte do artigo apresentado por LIEGGE KARLA LEITE PESSOA ao Curso de Letras a Distancia da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Letras. Profa. Dra. Amanda Batista Braga, orientadora.


RESUMO

O masculino, empregado como norma na língua portuguesa, tem sido combatido como sexista. Afirma-se que o uso não sexista da linguagem dá visibilidade às mulheres, tornando pública a participação feminina na construção da história. O objetivo desse estudo foi conhecer, ler e analisar publicações sobre linguagem e sexismo. A metodologia envolveu levantamento bibliográfico, leitura, reflexão, análise e discussão das publicações. O conceito de gênero ainda tem sido confundido e usado como sinônimo para sexo, todavia tornou-se o conceito fundamental do feminismo no seu projeto de mudança social e ruptura com a divisão do conhecimento e do trabalho. Com a origem da cultura, a domesticação e a civilização, ficou determinada a posição histórica da mulher, sendo essa condição, um pré-requisito da cultura. Muito tempo depois, a língua se tornou o alvo do feminismo. A língua portuguesa já nasceu cristã, disseminando os saberes e os poderes que a religião trouxe consigo para a língua. O uso genérico do masculino em português é um recurso semântico gramatical de produção de sentido, historicamente consolidado na língua. As duas formas, “presidente” e “presidenta”, estão corretas, no entanto, o termo “presidenta” tem mais uma conotação política sectária do que propriamente linguística, pois constituiu naquele momento, a forma politicamente correta. O tempo todo, a língua recebe influências do cotidiano, surgindo novos vocábulos e neologismos que, por tradição, vão buscar suas formas no modo de viver, nos costumes e no falar do povo. 

Palavras-chave: linguagem. sexismo. português. 


INTRODUÇÃO

           A linguagem é o principal meio de reprodução dos discursos, seja de forma verbal, escrita ou gestual. Nada do que dizemos é neutro, pois todas as palavras têm uma leitura de gênero. Assim, a língua não só reflete, mas também transmite e reforça os estereótipos e papéis considerados adequados para mulheres e homens em uma sociedade. É importante pensar a linguagem como um elemento inclusivo e de promoção da igualdade de gêneros, contra todas as formas de discriminação e segregação. A língua não é sexista, embora possa ser o uso que dela fazemos. Ao uso do masculino, empregado como norma na língua portuguesa, tem sido imputada a fama de uso sexista da linguagem. Os defensores e as defensoras, do uso de uma linguagem não sexista, afirmam que existem os gêneros: feminino e masculino, os quais devem ser nominados equitativamente na linguagem escrita, pois o uso do feminino e do masculino para tratar de grupos mistos, dá visibilidade às mulheres, tornando pública a participação feminina na construção da história (RIO GRANDE DO SUL, 2014). Portanto, é sensato perguntar se o uso de uma linguagem não sexista colaboraria na promoção dessa mudança cultural e social. A organização do texto inclui uma comparação entre o uso não sexista da linguagem e a “Novilíngua” imaginada por George Orwell. Em seguida, diversos conceitos inerentes a linguagem e sexismo são explicados, para na sequência, a influência do patriarcado no sexismo da linguagem, a socialização e o preconceito de gênero na prática pedagógica e, por fim, os recursos linguísticos e a produção de sentido, serem colocados e discutidos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A linguagem serve para entender o mundo e, sob esse aspecto, a língua portuguesa já nasceu cristã, disseminando os saberes e os poderes que a nova religião trouxe consigo para a língua. No passado estão as tradições e os valores transmitidos através das gerações. Desconstruir a tradição de uma sociedade é destruir a sua identidade enquanto nação e civilização. A origem da cultura, da domesticação e da civilização, determinou a posição histórica da mulher, sendo essa condição um pré-requisito da cultura. Muito tempo depois, a língua se tornou o alvo do feminismo e o termo “preconceito” passou inclusive a servir para desconstruir o que destoa dessa ideologia. Aqui, a contradição é armar-se de uma atitude preconceituosa, para combater supostos preconceitos da língua, em defesa da ideologia, pois as diferenças estruturais entre a língua inglesa e a língua portuguesa, tornam difícil e indesejável a importação para o português de usos que, surgiram e se consolidaram no inglês. As identidades são construídas de acordo com o ambiente em que somos educados e que vivemos, pela transmissão dos princípios éticos e valores morais locais. Até hoje, o conceito de gênero tem sido confundido e usado como sinônimo para sexo. Entretanto, na concepção atual de gênero herdada da sociologia e da psiquiatria, homem e mulher possuem apenas uma diferença cromossômica e todas as demais são culturais. Assim, condutas ou comportamentos masculinos ou femininos são criações culturais que deveriam ser revisadas. Gênero tornou-se o conceito fundamental do feminismo, em seu projeto de mudança social e ruptura com a divisão do conhecimento e do trabalho.  Não é justo dizer que a forma tradicional da língua portuguesa é machista. Na língua portuguesa, a grande maioria dos gêneros usados para os substantivos nem têm relação com o sexo. As palavras nascem, vivem e morrem. A língua está em constante transformação com novos vocábulos e neologismos que vão buscar suas formas no modo de viver, nos costumes e no falar do povo, portanto, não se muda a língua por decreto. Dirigidas a uma mulher, as duas formas, “presidente” e “presidenta”, estão corretas, mas seguindo a tradição da língua, por razões eufônicas e para evitar a cacofonia, a forma “presidente” prevalece entre muitos renomados escritores. Segundo Sarney (2010) o filólogo e grande sintaxista da língua portuguesa, Manoel Said Ali Ida escreveu em seu livro Dificuldades da Língua Portuguesa que, “nem tudo quanto está nos clássicos é para se imitar”. Assim, o termo “presidenta” tem mais uma conotação política sectária do que propriamente linguística, pois constituiu naquele momento a forma politicamente correta. Os sectários usam a forma “a presidenta”.


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