Eu me chamo Antonio

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Festa da Excelsa Virgem do Carmo 2015

Foi somente em 2012 que tomei conhecimento da existência da Festa em homenagem a Excelsa Virgem do Carmo, comemorada todos os anos, na igreja dedicada à Virgem em João Pessoa, capital da Paraíba, sempre no início do mês de julho e que consiste em um novenário cantado e orado em latim. É essa tradição que se mantém com a mesma beleza nos mais de 300 anos de permanência da Ordem dos Carmelitas na Paraíba que compartilho hoje com o mundo. Nesse ano, o novenário acontece de 06 a 16 de julho de 2015. Infelizmente, os vídeos com os mais belos momentos do novenário são muito grandes para serem postados aqui ou no "You Tube". Apresento então imagens do conjunto arquitetônico formado pela  Igreja do Carmo e pela Capela de Santa Teresa D'Ávila junto com um pequeno vídeo com a procissão de entrada no início do novenário. 

A palavra “Carmelo” deriva do Hebraico e significa “vinha do Senhor”. Conta-se que o profeta Elias viu a Virgem Maria indo para o Monte Carmelo na Palestina, em forma de nuvem que saía da terra. No ano 93, os monges construíram naquele monte uma capela em homenagem à Virgem. Expulsos no século XIII fundaram vários mosteiros pelo Ocidente, divulgando a devoção a Nossa Senhora do Carmo. Sabe-se também que um frade Carmelita chamado Simão Stock teve uma visão da Virgem Maria cercada de anjos, tendo nas mãos um escapulário da Ordem e ela dizia: “Eis o privilégio que dou a ti e a todos os filhos do Carmelo: todo o que for revestido deste hábito será salvo”. Vem daí a devoção do escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Os missionários Jesuítas chegaram a Capitania da Parahyba em 1588, seguidos pelos Franciscanos, Beneditinos e Carmelitas com o objetivo de evangelizar e catequizar os índios. Por desavenças com os Franciscanos sobre os métodos de educação e conflitos de interesses com a Coroa Portuguesa, os Jesuítas foram expulsos da capitania, enquanto os Franciscanos fundaram o seu convento em 1589. Os Beneditinos, por sua vez, iniciaram a construção de seu mosteiro em 1596, mas só começaram a construção de sua igreja na capitania no século XVIII, em 1721.

Em 1580 quatro padres carmelitas acompanharam a esquadra do capitão Frutuoso Barbosa, primeiro governador da Capitania Real da Parahyba, com o objetivo de fundar ali uma colônia, contudo, a tentativa de colonização fracassou por causa de uma tormenta que açoitou e dispersou as naus. O capitão retornou para Portugal, mas os Carmelitas ficaram em Olinda, no estado vizinho de Pernambuco, só vindo para a Capitania Real da Parahyba oito anos mais tarde, em 1588.  Naquele ano de 1580, por causa da morte do cardeal Dom Henrique que sucedeu o Rei Luso Dom Sebastião, morto em batalha no norte da África em 1578 sem deixar nenhum descendente direto, Felipe II, Rei da Espanha, reivindicou a coroa junto a oponentes como Dona Catarina, a duquesa de Bragança. Fracassadas as negociações diplomáticas, o Rei de Espanha invadiu Portugal com suas tropas militares tornando-se Rei de duas coroas. Portugal foi então anexado a Espanha e assim permaneceu durante 60 anos.

Na antiga Filipéia de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, os Carmelitas construíram um convento, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a capela de Santa Teresa D’Ávila, formando o Conjunto Carmelita em estilo barroco-rococó. No atual município de Lucena, no litoral norte da Paraíba, construíram ainda a Igreja de Nossa Senhora da Guia, raro exemplar do barroco tropical com grandiosos entalhes em pedra calcária retratando a fauna e flora brasileira e onde se pode ver singulares anjos deformados, fundaram ali também um hospital religioso. Parte da história dos Carmelitas na capitania da Parahyba se perdeu durante a invasão holandesa (1634 – 1654), uma vez que muitos documentos foram enterrados pelos religiosos e nunca mais foram encontrados ou foram recuperados em péssimo estado de conservação, impossibilitando a leitura.

Pia para água benta em forma de concha, esculpida em pedra calcária no estilo rococó.

Paredes laterais ornamentadas com azulejos portugueses que contam a história da Virgem do Carmo.

Um dos quatro púlpitos laterais na Igreja de N. S. do Carmo.

Altar Mor da Igreja.

Imagem de N. S. do Carmo no Altar Mor

Detalhe do Altar Mor com imagem de Cristo.

                        
Imagens dos profetas Elias e Eliseu no Altar Mor.


Pintura na nave do pórtico de acesso à entrada principal do templo. 

Coro e óculo da igreja.

Belo conjunto de portais em arco dão acesso ao claustro do antigo convento carmelita, atual Palácio do bispo.

Lápides no corredor entre o templo e o claustro do convento.

 


Altar Mor da capela de Santa Teresa D'Ávila.

Cúpula do Altar Mor da Capela de Santa Teresa D´Ávila.


Detalhes do Altar Mor da Capela de Santa Teresa D'Ávila.

 


 Altares laterais da Capela de Santa Teresa D'Ávila.

Coro e óculo da capela.


Pintura da nave da Capela de Santa Teresa D'Ávila.








              

sábado, 4 de julho de 2015

"Eu, 100 anos depois".




Vandalismo

Para ele, a vida não valia à pena. A prisão ao corpo e a vida material o atemorizava, assustava e entristecia. Não passamos de um corpo decadente que lentamente apodrece em direção ao nada e à morte. A vida só é aceitável no plano espiritual. Do Romantismo herdou a obsessão pela morte e enquanto os parnasianos se fantasiavam com os clássicos, desmascarou a realidade no Brasil e acabou o carnaval como sempre acontece, numa triste, cinzenta e lúgubre quarta-feira. Não foi acolhido por nada e por ninguém, permaneceu solitário. Para o professor de literatura João Trindade, Augusto é o poeta modernista que o grupo de egocêntricos intelectuais paulistas organizadores da Semana de Arte Moderna, não quis reconhecer. O poeta Olavo Bilac nem sequer o conhecia. Depois de apresentado a um poema de Augusto por ocasião da sua morte, Olavo afirmou: “Não se perdeu muita coisa na literatura brasileira”. Infortunadamente, o urubu pousou na sua sorte, pois enquanto hoje os livros de Olavo Bilac são muito pouco lidos e conhecidos, o “Eu” conta com mais de quarenta edições e Augusto continua a ser um dos mais lidos e populares poetas brasileiros.

Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau D’Arco, em Sapé, na Paraíba, Brasil, no dia 20 de abril de 1884. Foi alfabetizado pelo pai e estudou no Lyceu paraibano. Ainda muito jovem, contrariando a vontade da família, nutriu uma paixão por uma serva da casa, que se aprofundou na forma de caso amoroso. Engravidou a humilde jovem que por conta disso, foi surrada até a morte a mando dos genitores dele. Em 1907 tornou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. Mais tarde, em 1910, casou-se com Éster Fialho. Seu primeiro filho nasceu morto com 7 meses incompletos. Depois, teve com ela uma filha chamada Glória.

 
A árvore da serra

Ricordanza della mia gioventú

O maior de todos os paraibanos saiu de sua terra, expulso e impossibilitado de lá sobreviver e para lá nunca mais voltou. Em 1908, sendo ele professor do Lyceu Paraibano, embora professor substituto e não efetivo, gostaria de licenciar-se, mas continuando a receber os seus provérbios, para poder ir até o Rio de Janeiro lançar o seu primeiro livro intitulado “EU”. O poeta tinha consciência que o seu livro teria melhor projeção se lançado no sudeste do Brasil, região que concentrava a elite intelectual da época. Procurou o então Governador do Estado, João Machado, que negou o seu pedido. O fato culminou com impropérios de sua parte para com o governador, a quem já havia defendido em seus artigos e discursos, gerando uma intriga. João Machado, governador da Paraíba na época, era daquelas pessoas que seguem rigorosamente a legislação, que por sua vez, vetava a concessão daquilo que o poeta o havia pedido. Concordava, no entanto, que o poeta e professor se afastasse, contudo sem receber mais seus vencimentos. Diante disso, viajou ao Rio de Janeiro com o dinheiro que lhe foi emprestado por seu irmão. Dinheiro esse que jamais conseguiria ressarcir ao irmão, uma vez que por ocasião do lançamento do seu livro as vendas foram muito fracas. Somente a partir de 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque e a crise financeira internacional, em sua terceira edição, o “Eu” tornou-se um “best-seller”, vendendo algo em torno de mil cópias em apenas quinze dias. O “Eu” tornou-se leitura obrigatória para os estudantes de medicina da faculdade de medicina do Rio de Janeiro. 

Depois de dois anos de peregrinação e fome no Rio de Janeiro, aonde chegou a morar em doze lugares diferentes, Augusto chegou a Leopoldina, no estado de Minas Gerais, no dia 22 de junho de 1914. Lá, ministrava aulas particulares de português, inglês, francês, grego e latim. Nesse ano então, o leopoldinense Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, conseguiu para ele o cargo de diretor do grupo escolar. O “ginásio” era um colégio particular que atendia aos filhos dos barões do café e o ensino era preparado pela escola Pedro II do Rio de Janeiro. Leopoldina desde aquele tempo, já era uma cidade voltada para o saber e Augusto afirmava que lá teria encontrado o seu “nirvana”.  Tragicamente, depois de comparecer a um enterro debaixo de muita chuva, Augusto chegou a sua casa encharcado. No dia seguinte, apresentou febre alta e tremores, sendo diagnosticado com pneumonia. Num mundo ainda sem antibióticos, morreu doze dias depois, em 12 de novembro de 1914, com apenas 30 anos de idade.

Ironicamente, a Paraíba considerou-se roubada e dizia-se que os leopoldinenses haviam roubado o poeta dos paraibanos. A Paraíba desejava os ossos de Augusto, mas os familiares do poeta lavraram um documento em cartório, impedindo o translado dos restos mortais do poeta para a terra que o rejeitou no passado. Para cumprir-se o desejo do poeta que desejava ser sepultado à sombra de um pé de tamarindo, uma muda da planta foi levada da Paraíba para Leopoldina e plantada atrás do túmulo do poeta, onde até hoje ele descansa em paz. 

Debaixo do tamarindo

Um importante questionamento foi feito pelo escritor Jairo César no programa “Impressão” especial, apresentado pelo canal da Assembléia Legislativa do estado da Paraíba, em comemoração aos 100 anos da morte de Augusto. Ele argüiu: “Como se encontraria o mausoléu de Augusto dos Anjos, caso os seus restos mortais tivessem voltado à Paraíba?”. Esse questionamento pode ser facilmente respondido por qualquer um que visite o mausoléu do grande estadista paraibano assassinado em 1930, João Pessoa, no Palácio da Redenção, localizado em frente à praça no centro da capital paraibana, que recebeu como a capital do estado o seu nome e aonde nem mesmo lâmpadas queimadas são substituídas.  Ademais, se dependesse da vontade de alguns pseudo-intelectuais e políticos paraibanos, a capital já teria inclusive mudado de nome e o Estado da Paraíba já teria uma nova bandeira. Além disso, até hoje, não há na Paraíba uma grande obra pública que homenageie Augusto dos Anjos. Poucos anos atrás, foi inaugurado na capital o Centro de Convenções do estado, nem Augusto dos Anjos, muito menos outro grande estadista paraibano, o ex-governador professor Tarcísio de Miranda Burity, mentor do projeto Costa do Sol, na área aonde o Centro de Convenções da Paraíba foi construído foram lembrados. Tão pouco o povo da Paraíba foi consultado pelo governo democrático de “esquerda caviar” a respeito de qual nome gostaria de dar ao imponente prédio que, diga-se de passagem, foi um projeto do ex-governador José Targino Maranhão, o mesmo que em 1997, depois de 67 anos, trouxe de volta para a Paraíba os restos mortais de João Pessoa, promovendo uma cerimônia para recebê-los. Assim, o Centro de Convenções na capital da Paraíba, homenageia outro muito menos lido poeta, o ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, que lamentavelmente como os fatos históricos se repetem, mas dessa feita sem os alegados motivos passionais de 1930, tentou assassinar o ex-governador Tarcísio Burity durante um almoço, no sofisticado e charmoso restaurante Gulliver, na praia de Tambaú, na capital paraibana.


Imagem do túmulo de Augusto dos Anjos em Leopoldina - MG

No início do século XX, quando seu único livro foi lançado; assim como no ano 2000, quando o povo da Paraíba o elegeu como o paraibano do século e daí por diante por tempos imemoriais até o fim do mundo, como sempre foi desde o início, será o povo que resgatará Augusto do ostracismo. É pura verdade que na Paraíba, o antigo ditado: “santo de casa não faz milagres”, se aplica com todas as suas letras.

Psicologia de um vencido 

Asa de corvo