Eu me chamo Antonio

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Oração Penitencial

Hoje à tarde, saí despretensiosamente em busca de algo de pouca relevância para ser comentando aqui, até porque, mais importante de fato nessa investida foi outra coisa que, não estava planejada e que, a vida e o destino colocaram a minha vista. 

Sentado a sombra de um muro, sobre uma jardineira de cimento e quase espremido entre os carros de um estacionamento na calçada de um banco na praia de Tambaú, com a cabeça abaixada, apoiada em seus braços magros, os quais por sua vez, se apoiavam sobre os seus joelhos igualmente franzinos, guardando cautelosamente no colo uma bacia com alfenins caseiros, estava um garoto. Parecia triste, talvez estivesse dormindo, quem sabe estava exausto, cansado de tanto caminhar pelas ruas, em busca de alguém que comprasse sua humilde mercadoria, para conseguir algum dinheiro que levasse para casa e pudesse ajudar no sustento da família. 

Parei alguns passos adiante, tocado por aquela visão. Imediatamente, pensei em registrar a cena, fotografando aquele garoto. Enquanto preparava a câmera do celular para retornar alguns passos e fazer a foto, percebi que um homem, o qual me pareceu ser turista e que, também passava pela calçada com sua família, sensibilizou-se e tocou o ombro do menino. Perguntou-lhe algo, não ouvi o quê e não sei o que obteve como resposta. Vi quando pegou uma cédula de dinheiro, não posso assegurar quanto com toda certeza mas, acredito eram 10 reais e, entregou ao garoto, retirando-se tranquilamente dali. 

Um turbilhão de pensamentos invadiu a minha mente. Como poderia eu ser tão desumano e mesquinho. Não tive a hombridade daquela iniciativa e ao invés disso, na minha veia poética e levado pela futilidade da vida moderna, pensei antes de qualquer coisa, em registrar a cena, para postar em alguma rede social, sem me preocupar ao menos, em remediar ainda que por pouco tempo, a tristeza daquela frágil criatura. 

Nesses dias de final de mês, até tinha uma nota de dinheiro igual aquela que o gentil senhor deixou para o garoto, mas confesso, certamente aquele dinheiro me faria falta. Até pensei em me aproximar daquelas pessoas e parabenizar aquele senhor por sua nobre atitude. Desisti disso, considerando que o aparente anonimato de seu gesto, tornava ainda mais digna a sua atitude. Saí dali com olhos marejados, refletindo sobre a minha insensibilidade e mesquinhez. Mas, ao mesmo tempo, procurando o meu perdão ou melhor me livrar da culpa, nos meus próprios devaneios. Pensei nos seis milhões de reais de restos de campanha, usados pelo ex-governador do estado do Rio de Janeiro para comprar jóias para sua esposa. Pensei ainda no milhão de dólares usados para comprar roupas de grife pela esposa do ex-presidente da câmara de deputados Eduardo Cunha. 


Assim, confesso a Deus, todo poderoso e a vós, que pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa.