Dirigido por
Jeremy Jeffs, o documentário “A História da Índia” começa lembrando a
independência do país do domínio inglês em 1947 e ressaltando a sua importância
como protagonista de uma cultura que remonta a dez mil anos. No mais antigo mito indiano, o homem surgiu de
um ovo dourado posto pelo rei dos deuses na espuma do oceano cósmico. Embrenhando-se
nas florestas indianas, o apresentador, Michael Wood, encontra um clã brâmane
aonde sacerdotes entoam antigos mantras. Sons milenares repassados através da
tradição oral desde antes de existir a linguagem e, usados nos preparativos
para as cerimônias ao Deus do Fogo. Não apenas os sons e rituais antigos
persistem na Índia, também os primeiros genes da humanidade foram preservados
através de casamentos consangüíneos entre primos de primeiro grau, a linguagem
e as religiões vieram depois. Contudo, na Índia também se conserva a mais
antiga religião da humanidade, o culto a Deusa Mãe. Em 1921, na planície do rio
Indo, Paquistão, arqueólogos acharam vestígios de uma civilização pré-histórica
que antecedeceu a civilização grega, a cidade de Harappa fundada em 3.500 a. C.
No ano seguinte, os arqueólogos encontraram mais ao sul, Mohenjo-Daro, uma
metrópole da Idade do Bronze e capital de um império que se estendia do
Himalaia ao mar da Arábia. Depois de
séculos, essas cidades entraram em colapso, provavelmente por causa da queda
brusca na força das monções e a mudança no curso do rio Indo. Por volta de
1.500 a. C. surgiu à literatura, com os textos sagrados mais antigos do mundo,
os Veda e, da linguagem indiana, o sânscrito. Os versos dos hinos do Rig Veda contam uma história em que, os
chefes daquelas tribos primitivas falavam o sânscrito e se auto denominavam Árias, termo que
significa “os civilizados”. O sânscrito compartilha com o latim e o grego da
mesma origem e parece ter-se originado fora da Índia. Naquela época chegavam à
Índia os Árias com novos deuses e uma nova língua fixando-se no vale do rio
Indo no norte da Índia. O Rig Veda fala sobre uma bebida usada nos ritos
sagrados dos Árias, o soma. O soma ainda é usado com fins medicinais na Ásia
central. A bebida desperta os sentidos e era usada pelos poetas que compuseram
o Rig Veda, no entanto, a planta da qual se faz o soma não cresce na Índia e
atualmente não é mais usado na religião Hindu, portanto a bebida veio de fora
da Índia. Em torno do ano 1.000 a. C., os Árias ocuparam o norte da Índia e
travaram batalhas homéricas pela supremacia contadas em uma narrativa mítica
chamada de “Mahabharata”, o poema mais longo do mundo e para os indianos, a
mais importante história já contada. O “Mahabharata” é um épico apocalíptico que conta
a história de disputas entre clãs e remonta a chegada dos Árias à Índia.
Para a tradição indiana, a meta da
humanidade é viver na virtude, o “dharma”, ter sucesso e riqueza, o “artha”,
encontrar o prazer, ”o Kama” e, atingir a iluminação, o “moksha”. A sociedade
indiana segue uma ordem fundamentada no sistema de castas que, divide as
pessoas determinando suas ocupações e seu lugar na sociedade. Os párias ou
intocáveis são a casta mais baixa na sociedade e exercem o dever de cremar os
mortos. Esse sistema de poder foi questionado pelos antigos pensadores das
civilizações antigas desde o século V a. C., mas o mais influente desses
pensadores foi“Sidharta”, o Buda. Buda foi um príncipe que abandonando a sua
família e a riqueza, peregrinou pelo mundo durante seis anos em busca da verdade
até chegar a “Bodhgaya”. Ao chegar a “Bodhgaya” era apenas mais um andarilho
esfarrapado que vivia como os homens santos da Índia, num estado de privação
imensurável. Um dia, sentou-se debaixo de uma figueira para meditar em busca da
iluminação. Pela manhã, o Buda concluiu que a natureza da condição humana era o
sofrimento causado pela cobiça, o apego e o desejo humano. Libertando-se desses
desejos o homem se tornaria livre. As ideias do Buda são resumidas no respeito
a todos os seres vivos, a compaixão, a verdade e a não violência. Até ali, o
Buda continuava sozinho então, saiu de “Bodhgaya” e foi para “Sarnath”. Em
“Sarnath” encontrou cinco conhecidos dos seus tempos de peregrinação, os quais
se tornaram seus primeiros discípulos e para quem transmitiu seus ensinamentos
pela primeira vez, proferindo o seu primeiro sermão. Pelos quarenta e cinco
anos seguintes, o Buda viajou a pé, mendigando e fazendo pregações pelos reinos
da planície do rio Ganges. O Buda foi um contestador de governos em prol da
justiça social, o primeiro rebelde indiano. Ele foi à cidade de “Rajgir” a
convite do rei. Nessa época, o Buda já possuía mais mil discípulos. Já idoso, com
cerca de oitenta anos, o Buda fez a sua última jornada cruzando a planície rumo
ao Himalaia, de volta às terras aonde nasceu, aonde morreria. Ali se quedou
enfermo. Há muitos mitos sobre os últimos instantes \da vida do Buda, mas em
todos esses suas últimas palavras foram: “Tudo nesse mundo é passageiro, sigam
a luta incansavelmente”. Os ideais do Buda foram cultuados apenas na planície
do rio Ganges ao longo de dois séculos, mas a guerra mudaria essa trajetória. Na
ocasião da morte do Buda, o império Persa invade a Grécia. No século seguinte,
em 331 a. C., os gregos rumaram para o Oriente em busca de vingança e o império
persa é invadido pelo jovem general Alexandre, o grande, subjugando o monarca
persa Dario. Imperialista, Alexandre conduz o seu exército através das
planícies da Índia. Foi o primeiro encontro entre a Índia e o Ocidente. Durante
a invasão grega, um jovem rei indiano chamado “Chandragupta Maurya, na capital
do seu império, a atual “Patna”, renunciou ao trono em busca da salvação, a
“moksha”. Esse primeiro grande rei da Índia passou fome até a morte numa
caverna em busca do conhecimento e da libertação. Vinte anos após a sua morte,
seu neto “Asoka” o cruel, tomaria suas ideias e, juntando-as com a ética
jainista e budista, as transforma não apenas na essência da moral individual,
mas em política. Ele cria a legislação de bem estar social, os ensinamentos de
tolerância religiosa e, os preceitos ecológicos para a preservação das espécies
animais e vegetais. Essa política abandona a seara da religião e da magia para
ser ditada pela razão e pela moralidade.