Hoje à tarde, saí despretensiosamente em
busca de algo de pouca relevância para ser comentando aqui, até porque, mais
importante de fato nessa investida foi outra coisa que, não estava planejada e que, a vida e o destino colocaram a minha vista.
Sentado a sombra de um muro,
sobre uma jardineira de cimento e quase espremido entre os carros de um
estacionamento na calçada de um banco na praia de Tambaú, com a cabeça
abaixada, apoiada em seus braços magros, os quais por sua vez, se apoiavam
sobre os seus joelhos igualmente franzinos, guardando cautelosamente no colo uma bacia com
alfenins caseiros, estava um garoto. Parecia triste, talvez estivesse
dormindo, quem sabe estava exausto, cansado de tanto caminhar pelas ruas, em busca de
alguém que comprasse sua humilde mercadoria, para conseguir algum dinheiro
que levasse para casa e pudesse ajudar no sustento da família.
Parei alguns passos adiante,
tocado por aquela visão. Imediatamente, pensei em registrar a cena, fotografando
aquele garoto. Enquanto preparava a câmera do celular para retornar alguns
passos e fazer a foto, percebi que um homem, o qual me pareceu ser turista e
que, também passava pela calçada com sua família, sensibilizou-se e
tocou o ombro do menino. Perguntou-lhe algo, não ouvi o quê e não sei o que obteve como resposta. Vi quando pegou uma cédula de dinheiro, não posso assegurar quanto com toda certeza mas, acredito eram 10 reais e, entregou
ao garoto, retirando-se tranquilamente dali.
Um turbilhão de pensamentos
invadiu a minha mente. Como poderia eu ser tão desumano e mesquinho. Não tive a
hombridade daquela iniciativa e ao invés disso, na minha veia poética e levado pela futilidade da vida moderna, pensei
antes de qualquer coisa, em registrar a cena, para postar em alguma rede social,
sem me preocupar ao menos, em remediar ainda que por pouco tempo, a tristeza
daquela frágil criatura.
Nesses dias de final de mês,
até tinha uma nota de dinheiro igual aquela que o gentil senhor deixou para o
garoto, mas confesso, certamente aquele
dinheiro me faria falta. Até pensei em me aproximar daquelas pessoas e parabenizar aquele senhor por sua nobre atitude. Desisti disso, considerando
que o aparente anonimato de seu gesto, tornava ainda mais digna a sua atitude.
Saí dali com olhos marejados, refletindo sobre a minha insensibilidade e
mesquinhez. Mas, ao mesmo tempo, procurando o meu perdão ou melhor me livrar da culpa, nos meus próprios
devaneios. Pensei nos seis milhões de reais de restos de campanha, usados
pelo ex-governador do estado do Rio de Janeiro para comprar jóias para sua
esposa. Pensei ainda no milhão de dólares usados para comprar roupas
de grife pela esposa do ex-presidente da câmara de deputados Eduardo
Cunha.
Assim, confesso a Deus, todo
poderoso e a vós, que pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e
omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa.