Eu me chamo Antonio

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Odeio rodeios

Odeio rodeios! Realmente, não curto arrodeios. Recentemente, uma grande polêmica foi gerada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, por seis votos contra cinco, julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), contra a Lei Nº 15.299/2013, a qual regulamentava a vaquejada como prática desportiva e cultural no Estado do Ceará. O ministro Marcos Aurélio, relator do processo, considerou o esporte cruel e, causa de tortura, sofrimento e maus tratos aos animais. Seguiram esse mesmo raciocínio posicionando-se contra a vaquejada, os ministros Luis Roberto Barroso, Rosa Weber, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e a presidente da corte, ministra Carmen Lúcia. Os ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes, Teori Savascky, Luis Fux e Dias Toffoli se contrapuseram, divergindo do relator do processo e, votaram a favor da regulamentação da prática desportiva.

Para efeito da Lei, considera-se vaquejada, todo evento de natureza competitiva, no qual, uma dupla de vaqueiros a cavalo persegue animal bovino, objetivando dominá-lo. Os competidores são julgados na competição pela destreza e perícia em dominar o animal. A competição deve ser realizada em espaço que, proporcione segurança, proteção, saúde e integridade física aos vaqueiros, aos animais e ao público em geral. Na vaquejada profissional é obrigatória a presença de profissionais da saúde animal durante as provas e, o vaqueiro flagrado ferindo ou maltratando de forma desnecessária e intencional algum animal, deve ser desclassificado e excluído da competição. Além disso, o transporte, trato e manejo dos animais, devem ser realizados de forma adequada que, assegurem o bem estar e a saúde dos animais.

De uns tempos para cá, os organizadores do esporte têm demonstrado a preocupação em desenvolver artefatos que protejam a cauda do boi, como também em melhorar e aumentar a altura da faixa de areia, destinada a queda do boi, além de proibir o uso de esporas do tipo estrela que, machucam e ferem o ventre dos cavalos, devendo nesse último caso, sofrer o vaqueiro infrator, sanções e até mesmo ser por isso, desclassificado, a critério dos juízes do evento.

Acidentes...Acontecem! Não apenas com os animais, mas também com os vaqueiros. Toda essa celeuma me faz lembrar um fato curioso que, até seria engraçado, caso não houvesse culminado em consequência trágica e irreparável. Certa vez, quando trabalhei no campus da Universidade Federal em João Pessoa, me deparei com uma grande e larga faixa de pano preto que, cobria a fachada de um dos laboratórios, no departamento de química. Procurei então, conhecer o motivo do luto. Para minha surpresa fui informado que, um estudante, havia morrido de uma "buchada", o que me deixou, ainda mais, perplexo. Aprofundando-me no conhecimento do caso, consegui saber que, o rapaz havia almoçado uma buchada e, logo em seguida, resolveu montar a cavalo. Aconteceu que, acidentalmente sofreu uma queda do cavalo, havendo naquele momento, regurgitado o conteúdo estomacal do seu almoço. O vômito tomou falsa via, alojou-se nas vias aéreas do jovem e, impedindo que respirasse, o matou por asfixia.


O hipismo ou equitação abrange um conjunto de esportes praticados a cavalo, como o turfe ou corrida de cavalos, o pólo, o salto de obstáculos, assim como, a vaquejada e o rodeio. Esses são esportes bem diferentes do "curling", um esporte coletivo olímpico, praticado em uma pista de gelo e que, consiste em arremessar pedras de gelo, o mais próximo possível de um alvo, com o auxílio de instrumentos semelhantes a uma vassoura. Um dos esportes mais imbecis que, a humanidade já concebeu e, só comparado ao ato insano de enxugar gelo. Já assisti a um vídeo na televisão, onde um cavalo sofreu uma fratura exposta durante uma corrida, devendo por isso, ser abatido. Também já assisti cavalos que, refugando o salto durante as provas de hipismo, derrubaram e caíram perigosamente sobre os seus cavaleiros. Qualquer um que, tenha assistido ao clássico do cinema "E o vento levou", pode testemunhar o que afirmo aqui. Refiro-me a cena em que, Bonnie Blue, a filha do casal que protagoniza o filme, Rhett Butler (Clark Gable) e Scarlett O'Hara (Vivien Leigh) morre, depois de tentar pular uma cerca, com o seu pônei.


Cruel, abominável e desumano é sem dúvida, o sistema de produção que enxerga os animais como produtos, que enclausura animais em ambientes minúsculos, muitas vezes iluminados apenas artificialmente, onde permanecem praticamente incapacitados de se mover, comendo ração até atingir o peso ideal, para depois serem conduzidos ao abate "humanitário", sem nunca sequer, terem visto a luz do sol. Depois de tudo, os humanos consumem a sua carne. Poucos falam, discutem ou reclamam disso. Pois, como afirmou Isaac Bashevis Singer "estão convencidos de que, o homem, espécie pecadora por excelência, domina a criação. Como se as outras criaturas, tivessem sido criadas, apenas para servir-lhes à comida, à roupa, para serem martirizadas e exterminadas".


No mundo, parafraseando Renato Russo, "pouco é certo e nada é justo". Faz-se portanto, necessário refletir e buscar alternativas que, ao menos minimizem situações como as citadas no exemplo acima, pois como seres heterotróficos que somos, precisamos adquirir os nutrientes indispensáveis a manutenção do nosso organismo de fontes externas. Diferentes dos seres autotróficos, como os vegetais que, são capazes de produzir os nutrientes necessários a sua manutenção e ao seu desenvolvimento, usando para tanto, apenas a luz, dióxido de carbono e água. O ideal seria que, como esses últimos, vivêssemos apenas de fotossíntese, e já houve até alguns que, testemunharam na televisão serem capazes de assim fazer, contrariando os princípios mais básicos do conhecimento científico humano.

Ora, mesmo os vegetarianos radicais, precisam devorar plantas que, também são seres vivos. Portanto, quaisquer discussões protecionistas nesse sentido e, de caráter sentimental, trata-se de niilismo puro. Assim, toda esse "mi mi mi" em torno de esportes equestres, a exemplo da vaquejada e, por que não incluir aqui também, o rodeio, alcançam um hebetismo sem precedentes, típico dos intelectuais que nada leem, dos estudantes que não estudam e dos trabalhadores que não trabalham. Acaso, se pretende com isso, perguntar aos animais se, gostariam de participar das referidas competições ou, se acaso se disporiam a carregar pessoas montadas em seu dorso, ou se por obséquio, poderiam levá-las sentadas em uma charrete, carruagem ou até mesmo numa carroça. Ou ainda se lhes agrada a ideia de trabalhar para os humanos, transportando pesados fardos de incontáveis produtos e mercadorias?

Bem fez o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba que, realizou recentemente pela internet, consulta pública entre os veterinários e zootecnistas inscritos na autarquia, para ouvi-los nos seus posicionamentos quanto a regulamentação dos esportes equestres. Deliberando pela maioria dos conselheiros que, o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba é favorável a regulamentação de todo e quaisquer atividade realizada com animais domésticos e de produção, desde que realizadas com a fiscalização e regulamentação legal por parte das autoridades competentes, uma vez que, a presença do médico veterinário e do zootecnista, assegura o bem estar, a proteção e a saúde de todos os animais.

Tudo isso, não é uma invenção da modernidade. A já antiga música "Odeio rodeio", lançada em 2005 e, de autoria do ex-secretário de cultura do Estado da Paraíba traduz, inexoravelmente, o verdadeiro prelúdio daquilo que, posteriormente, veio por esse mesmo, a ser chamado de "forró de plástico".